Nos últimos anos, o índice de suicídios entre crianças e adolescentes tem se elevado consideravelmente, trazendo mais preocupação a pais e educadores.
A morte é um assunto que gera angústia, e, quando a opção por interromper a vida vem da própria pessoa que se encontra no início de um longo percurso, com um universo de opções e escolhas, torna-se inconcebível.
Trabalhando com jovens, tentamos buscar, na ciência ou no estilo de vida contemporâneo, uma razão para tal atitude.
Justificamos as atitudes dos adolescentes, compreendendo que sofrem diversas mudanças; que o amadurecimento cerebral, responsável pelo sistema de freios e contrapontos, ainda está em desenvolvimento; que passam por uma explosão hormonal; que enfrentam a “depressão típica da adolescência”, que não lhes permite lidar adequadamente com as adversidades que o mundo oferece; que estão intensamente expostos às redes sociais; que sofrem pressão por um desempenho cada vez melhor e para cursar uma boa faculdade; que precisam escolher uma profissão etc. Todos esses são fatores que os levam ao desespero, e a fuga poderia ser a morte.
Infelizmente não existe razão única para o suicídio. Cada caso tem suas particularidades e precisa de um “motivo” que gere o start.
A depressão sempre foi considerada um fator significativo para levar ao suicídio, porém, muitas vezes, os sintomas passam despercebidos pelos pais e pelas pessoas que convivem com os adolescentes, porque alguns dos sinais são confundidos com atitudes típicas: isolamento, alteração de humor, muito apetite, ou a falta dele, dormir muitas horas, ou ter insônia e irritabilidade, entre outros, totalmente normais nessa fase do desenvolvimento humano. A diferença entre a normalidade e a doença está na intensidade dos sintomas.
Atualmente a culpa é atribuída também aos jogos, à influência da mídia, ao excesso de informações sobre o tema e às redes sociais, mas isso é apenas uma tentativa de justificar um transtorno mental (depressão, alcoolismo, esquizofrenia). Um adolescente saudável, que vive apenas os sintomas depressivos, típicos da adolescência, dificilmente se deixaria levar por essas influências externas.
Entendo que o comportamento suicida está diretamente relacionado a questões internas, a desordens emocionais mais severas.
As pessoas apresentam dificuldade em aceitar os problemas de ordem emocional, que são tão reais quanto os físicos, tentando, a todo custo, achar uma única razão para explicar comportamentos tão complexos. Tal atitude ocorre devido à incapacidade para se administrar a perda. A tendência do ser humano é se sentir culpado, achar que poderia ter evitado, de alguma forma, a tragédia. As pessoas próximas de quem tirou a própria vida se culpam por não terem percebido os sinais, porém esses “sinais” nem sempre estão claros, nem o próprio adolescente, muitas vezes, reconhece que não está bem, que precisa de ajuda.
De acordo com a Organização Mundial de Saúde, o ser humano, para ser saudável, precisa equilibrar cinco saúdes: física, espiritual-intelectual, familiar, econômico-financeira e social-ecológica.
Vivemos em um tempo de grande desequilíbrio entre essas cinco saúdes, a começar pela física. A rotina do adolescente é acompanhada pelo fast-food; o consumo alcóolico desenfreado; o estresse em níveis elevados, a falta de qualidade e a quantidade de horas de sono, o excesso de atividades, etc.
A espiritualidade é abandonada em meio a tantas obrigações e à correria do dia a dia. A valorização dos bens materiais e a necessidade de TER para se sentir integrante de uma sociedade capitalista colocam a essência humana em segundo plano, gerando imediatismo e impulsividade na satisfação dos prazeres e, com a dificuldade econômica e política que o País vem enfrentando, o problema se agrava. Na tentativa de suprir os “vazios” internos, o que prevalece é o aspecto material.
A estrutura familiar está passando por uma ressignificação, e até que uma adaptação aos novos moldes ocorra, os conflitos e as dificuldades para administrar essa nova rotina estarão presentes.
Infelizmente a sociedade está “adoecendo”, e nossos adolescentes estão adoecendo junto, cada vez com mais dificuldade para sair do personagem que, muitas vezes, precisam criar, para sobreviver e encarar o próprio “eu” como realmente é, com angústias, tristezas, fraquezas e dificuldades naturais de todos os seres humanos.
Não existem receitas, mas podemos encurtar o caminho que nos leva até os adolescentes, com um diálogo aberto, uma escuta sem preconceito, uma constante observação de suas reais necessidades, procurando sempre entender o que passa pela cabeça daquele jovem. Talvez, dessa forma, se consigamos mudar o rumo das incertezas e do vazio enfrentados nessa fase tão importante da vida - A ADOLESCÊNCIA.
Sinais importantes de depressão
? Perda de autoestima; necessidade frequente de palavras reconfortantes e de confirmação para seus atos.
? Tristeza, acompanhada ou não de crises de choro sem motivo aparente.
? Autocrítica exagerada e sentimento de culpa, inclusive para eventos ocorridos no passado; sensibilidade exacerbada a situações consideradas como de rejeição.
? Sensação de vazio.
? Alterações de comportamento manifestadas por irritabilidade, impaciência e perda de interesse por atividades cotidianas, incluindo as prazerosas, tanto no círculo familiar, como entre colegas e amigos.
? Dificuldade de concentração e de memória.
? Sentimento crescente de que a vida não vale a pena; visão pessimista e desoladora do futuro.
? Morte como um tema de pensamento frequente; ideação suicida.
Comportamentos que devem chamar a atenção
? Insônia, ou sono excessivo.
? Perda de apetite, com emagrecimento, ou excesso de apetite e ganho de peso.
? Sensação de cansaço e de falta de energia para atividades.
? Queixas frequentes de dores de cabeça ou no corpo, sem explicação aparente.
? Lentidão no pensar, no falar e no agir.
? Inquietude e agitação, com dificuldade de concentração.
? Absenteísmo e queda do desempenho escolar.
? Uso de álcool e/ou drogas.
? Isolamento social.
? Aparência descuidada, aspecto desleixado.
? Comportamento agressivo, disruptivo ou de risco; ações teatrais, como se estivesse representando algo.
? Autoagressão: cortes, queimaduras, excesso de piercings ou tatuagens.
? Planos ou tentativas suicidas.
Esses são alguns dos comportamentos que geram alerta, porém, para um diagnóstico preciso, é necessário consultar um especialista. O objetivo deste texto é despertar um olhar mais atento. Apresentar algum desses sintomas não significa que o adolescente tenha depressão. Observação, proximidade e diálogo aberto podem ser o caminho para acolher o adolescente em risco e salvá-lo.
Sandra Regina Quinzani
Psicóloga do Esporte